terça-feira, 30 de março de 2010

Pior banda do mundo lança CD.


O Unplay é a pior banda do mundo. São os próprios integrantes que dizem isso e, se eles admitem, a gente leva a sério.

Só que não é para tanto. Eles são bons. Eles não são virtuosos, não são famosos e nem têm uma legião de fãs, que acampa com barracas na porta dos lugares onde eles tocam.

O Unplay tem amigos. Eles mesmos dizem isso, no palco, antes de começar o show. Eles são precedidos por uma vinheta gravada com o vozeirão de Leonardo Müller, voz padrão da rádio Jovem Pan. Na mesma vinheta, o Carioca, do programa Pânico, da mesma emissora, imita o falecido locutor Lombardi, dizendo que o Unplay é a banda preferida do patrão Sílvio.

Em seus primeiros shows, a gravação de abertura tinha a voz de José Mojica Marins – o Zé do Caixão – mestre do trash nacional.

No palco, cada um deles veste uma cor. Ricardo Xavier e Luizão, os vocalistas, vestem azul-calcinha e amarelo-ovo, respectivamente. O primeiro CD deles se chama
Um Pouco Mais De Menos Barulho e, durante o show, eles foram vendidos por R$ 5. É um preço promocional, diz a banda. O preço normal é R$ 10.

Eles também vendem camisetas. Uma delas, com uma estampa do Chuck Norris, traz a frase “O que você quer de mim?” – em referência à versão que o Unplay fez para a música
What Do You Want From Me?, do Monaco (banda de Peter Hook, ex-New Order).

Quando o show começa, o bar todo vai para a frente do palco. Ricardo agradece a presença de todos, lembra que eles estão lançando CD, que faz tempo que eles não tocam ao vivo, agradecem à casa (o Fidalga 33, que fica na Vila Madalena, em São Paulo) por ser a única casa que dá espaço para eles tocarem.

- Depois que a gente tocar, vai ter outra banda. Eles são bons de verdade. Não são que nem a gente. Eles sabem tocar. Pra quem não sabe, a gente tá lançando o nosso primeiro CD hoje, então a gente tá muito orgulhoso, porque o CD tá bonito, tá bem gravado. Nosso produtor, o Godoy, teve um baita trabalhão com a gente, mas ficou legal. A capa é bonita, o som tá bem gravado e tudo mais. A única coisa ruim somos nós.

A platéia nem liga. Assim que eles começam a tocar, ninguém mais quer saber se o Luizão erra a letra, se o Ivan, o guitarrista tem que ficar em cima dos vocais pra eles entrarem na deixa certa. Eles fazem um show divertido pra caramba, mudando para português um monte de sucesso que foi originalmente gravado em inglês.

Alguns exemplos:
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Blitzkrieg Bop, dos Ramones, vira A gente quer Ibope.
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I Used To Love Her, do Guns N’ Roses, vira A Luz Se Move.
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I Wanna Hold Your Hand,dos Beatles, vira A Vaca e O Frango.
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Cocaine (do J.J. Cale), famosa com Eric Clapton, vira Com Quem?.
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Sexy Back, do Justin Timberlake, vira Tomar Um Mé.

A estratégia é a mesma que o Calvin, dos tiras em quadrinhos (é, o amigo do tigre Haroldo) usa na sala de aula. Quanto melhor você é, mais responsabilidade cai pra cima de você. Eles não querem responsabilidade.

Eles querem tocar, juntar os amigos e dar risada – o que, em si, já é responsabilidade pra caramba. Eles, no entanto, sabem disso. No palco, quando uma trapalhada faz com que a banda entregue que vai ter um “bis” mesmo que ninguém peça, eles têm um ataque de riso coletivo e o Ricardo pega o microfone pra deixar escapar uma daquelas frases que resumem tudo.

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